R. M. McCheyne
Por que os adolescentes devem acudir a Cristo sem tardança
(Sl 90:14)
Sermão 2
“Farta-nos de madrugada com a tua benignidade, para que nos
regozijemos, e nos alegremos todos os nossos dias.” (Sl 90:14, ARC, Pt)
Queridos jovens, quando olhardes para o ano que vai
finalizar, queira Deus que o Espírito Santo produza em vós a mesma convicção,
que possa fazer ouvir, também, nos vossos ouvidos a Sua voz penetrante: “Foge
da ira que virá; refugia-te em Cristo sem mais tardança”. “Escapa por tua vida;
não olhes para trás”.
I.
PORQUE A VIDA É MUITO CURTA
“Os dias da nossa vida chegam a setenta anos, e se
alguns, pela sua robustez, chegam a oitenta anos, o orgulho deles é canseira e
enfado, pois cedo se corta e vamos voando.” (Sl 90:10, ACF) Até aqueles que
vivem mais anos, quando lhes chega a hora da morte têm a impressão de que a sua
vida foi um sonho. E é que não é debalde que diz a Bíblia que “é como um sonho”.
Enquanto dormimos, as horas passam rapidamente, tanto, que não nos damos conta
disso. Quando despertamos é que vemos quanto tempo tem passado. Assim é a vida.
É como um “conto, ou uma fábula que se conta”. Quando estais escutando a
narração de um conto agradável passa o tempo rapidamente e parece-vos como se
vos tivessem roubado as horas. Certamente “acabamos os nossos anos como um
pensamento”.
Possivelmente haveis visto mais de uma vez um navio
em algum rio com todos os marinheiros a bordo, as âncoras içadas e as velas
enfunadas ao vento, quando docemente desliza e balança rápida entre as águas
ondulantes. Assim passam os nossos dias, “deslizam-se no mar do tempo como os
navios”. Ou quiçá haveis tido ocasião de contemplar alguma águia quando, do seu
ninho colocado no mais alto das rochas, equilibra-se voando como uma flecha
para apoderar-se de alguma ave. Quão suave, mas velozmente voa! Assim é com a
vossa vida. “Escapa-se veloz como a águia sobre a sua presa”. Mais de uma vez
haveis contemplado a neblina que se forma ao pé das montanhas nas primeiras
horas da manhã e haveis visto, quando o Sol sai com os seus raios temperados,
como quão rapidamente se desvanecem as névoas! E o que é a vida? Certamente é
um vapor que aparece por um pouco de tempo e logo se desvanece (Tiago 4:14).
Alguns de vós tendes visto quão curta é a vida
naqueles que vos rodeiam. “Os vossos pais onde estão ? E os profetas ? Tendes
de viver para sempre?” (Zc 1:5). Quantos amigos tendes que dormem no sepulcro!
Alguns de vós tendes mais amigos no sepulcro que neste mundo. Deus tem-nos
feito passar pelas avenidas de água, como uma catarata que se precipita e vós
lhes ides atrás. Não passará muito tempo e a igreja onde agora vos sentais
estará ocupada por outros adoradores que vos terão sucedido, uma nova voz
guiará no canto dos salmos e um novo homem de Deus ocupará o púlpito. Estai
completamente certos de que dentro de poucos anos todos vós que ouvis esta
mensagem jazereis no sepulcro. Oh, quão urgente e necessário é ir a Cristo sem
demora! Que obra tão grande tens de fazer, de quanta responsabilidade! Ser
levado realmente a Cristo! E com quão pouco tempo contas para fazê-la! Tens de
fugir da ira que virá, tens de ir a Cristo em busca de refúgio, tens de ir
nascer de novo, tens de receber o Espírito Santo para ser feito apto para a
glória. O tempo que tens para buscar o Senhor é um tempo solene. Até os muitos
anos de uma larga vida resultam excessivamente breves para buscar o Senhor.
Busca achar a convicção do pecado e a dar interesse a Cristo e à tua alma. “Farta-nos
de madrugada com a tua benignidade, para que nos regozijemos, e nos alegremos
todos os nossos dias.” (Sl 90:14, ACF)
II.
PORQUE A VIDA É MUITO INCERTA.
“O homem é como a erva, que cresce na manhã, na
manhã floresce e cresce; à tarde é cortado e seca-se”. A maioria dos homens são
cortados sem ter chegado à idade amadurecida; possivelmente há cinquenta por
cento da humanidade que morre antes de alcançá-la. Unicamente na cidade do
Glasgow morrem mais da metade dos seus habitantes antes dos 20 ou 30 anos de
idade. Da maioria dos homens pode-se dizer: “Sai como uma flor e é cortado”. A
morte é muito certa, mas o tempo em que nos surpreenderá muito incerto. Muitos
acreditam que ainda não morrerão porque desfrutam de saúde de ferro, mas não
tendes em conta que muitos muito sãos também morreram por acidente ou outras
causas fortuitas. Nem os bons mantimentos e vestidos da melhor qualidade
constituem uma eficaz defesa contra a morte. Está escrito: “O rico também
morreu e foi enterrado”. Tampouco amáveis e atentos médicos ou amigos podem
defendê-los da morte. Quando a morte chega burla-se dos esforços dos mais
hábeis médicos e arranca o ser querido dos braços mais ternos. Há alguns que
pensam que não morrerão ainda porque não estão preparados para morrer, mas não
reparam no facto de que muitos morreram sem estar preparados, sem estar
convertidos, sem ser salvos. Esqueceis-vos de que está escrito acerca da porta
estreita “que poucos sois os que a acham”. A maioria das pessoas jaz numa
escura tumba e numa eternidade ainda mais escura.
Alguns de vós credes que não morrereis porque ainda
sois jovens. Esqueceis o que já havemos dito, que a metade da Humanidade morre
antes de alcançar a idade madura. A metade dos habitantes desta cidade morre
antes de chegar aos vinte anos. Oh, se tu tivesses de estar presente como eu no
leito de morte de meninos e adolescentes e pudesses ver o seu inquieto olhar e
os seus movimentos espasmódicos e trémulos e ouvir os seus agonizantes
lamentos, compreenderias quão necessário te é acudir, ir agora sem demora a
Cristo! Pode estar próxima a tua vez. Estás preparado para morrer? Foste sem
demora a Cristo para te refugiares n’Ele? Foste perdoado? “Não presumas do dia
de amanhã, porque não sabes o que ele trará.” (Pv 27:1, ACF)
III.
A MAIORIA DOS SALVOS FORAM A CRISTO NA SUA JUVENTUDE.
Foi assim nos dias do nosso bendito Salvador.
Aqueles que eram entrados em anos, eram, ou melhor dizendo, consideravam-se
muito sábios e prudentes para ser salvos pelo sangue do Filho de Deus e Ele
assim o revelou àqueles que eram mais jovens e que tinham menos sabedoria. “Louvo-Te,
Pai, Senhor do Céu e da terra, que tenhas escondido estas coisas dos sábios e
dos entendidos e as tenhas revelado aos meninos” (Mateus 11:25). “Junta os
cordeiros com o seu braço e os leva no seu seio”. Tem sido assim em quase todos
os tempos de avivamento. Se perguntardes aos cristãos já amadurecidos, vereis
como vos responderão a maioria deles que foram despertados, e tiveram ansiedade
ou inquietação pelas suas almas e foram salvas sendo ainda jovens.
Oh, que razão tão poderosa para buscar uma pronta e
urgente verdadeira aproximação a Cristo! Se não fordes salvos na vossa
juventude, pode ser que depois nunca o chegueis a ser. Existe um tempo especial
e adequado, o tempo apropriado para a salvação. Jesus disse aos de Jerusalém: “Não
conhecestes o tempo da vossa visitação”. Há tempos e períodos que bem poderiam
chamar-se “dias de conversão”. Abundam especialmente e de forma inequívoca em
mais de uma alma. O domingo é o grande dia em que se reúnem as almas; o dia do
Senhor pode ser chamado o dia do mercado do Senhor. É o dia da grande colheita
de almas. Bem sei que há uma geração que se levanta contra esse dia e se afana
por pisá-lo sob os seus pés, com a sua vil e nefanda conduta, mas vós apreciais
o dia do Senhor. O tempo de aflição é também um tempo de conversão. Quando Deus
leva a algum ser amado, então dizeis: “Isto é o dedo de Deus”, recordai que
Cristo com isso procura salvar-vos: abri-Lhe a porta e permi-Lhe entrar. O
tempo em que o Espírito Santo contende com a vossa alma é também tempo de
conversão. Se sentirdes no vosso coração a Sua chamada e a Sua acção que vos
impulsiona a buscar na Bíblia a vossa salvação, ou a consultar ao vosso pastor,
“não extingais o Espírito”; “não resistais ao Espírito Santo”, “não afronteis o
Espírito Santo de Deus”. A juventude é tempo de conversão. “Deixai vir os
meninos para mim e não os impeçais, porque dos tais é o reino dos céus”. Oh,
vós que sois como ovelhas, buscai ser achados e recolhidos pelos braços do
Salvador e permiti que Ele vos leve no Seu ombro ou junto ao seu Seio! Ide
depressa e confiai sob as asas potentes do Salvador. “Ainda há lugar”.
IV.PORQUE
SE É MAIS FELIZ ESTANDO EM CRISTO QUE FORA DE CRISTO.
Muitos há que ao ler estas palavras dizem no seu
coração: “Coisa triste é ser religioso”. A juventude, pensais, é o tempo do
prazer, de comer, de beber, de viver desenfreadamente. Eu sei que a juventude é
o tempo do prazer; é nela que os pés são mais ligeiros, que o olho está mais
cheio de vida e de brilho, que o coração transborda mais alegria. Mas, esta é
precisamente a razão que eu dou para irdes a Cristo. É-se mais feliz estando em
Cristo que fora de Cristo.
1. Porque satisfaz o coração. Nunca neguei que
possam achar-se alegrias fora de Cristo. A música e o baile, os jogos e os
desportos estão intimamente ligados e atraem fortemente os corações dos jovens.
Mas, ah! Pensai um momento. Não é confuso viver feliz, não estando salvo? Não é
trágico ver um homem dormindo plácida e tranquilamente numa casa em chamas? E
não é suficiente para nos horrorizar ver-vos bailando e divertindo-vos sabendo
que Deus está zangado e a Sua ira ameaçando contra vós, seriamente, a cada dia?
Pensai outra vez. Não se acham em Cristo prazeres
imensamente mais doces? “Qualquer que beber desta água tornará a ter sede; Mas
aquele que beber da água que Eu lhe der nunca terá sede, porque a água que Eu
lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna.” (Jo
4:13-14, ARC, Pt) “Fartura de alegrias
há no Teu rosto e deleites à Tua dextra para sempre”. Ser perdoado, ter paz com
Deus, tê-Lo a Ele por Pai, contar com a Sua complacência e amor, desfrutar do
Seu Espírito Santo derramado em nossos corações e fazendo-nos mais e mais
santos, são todos eles prazeres dignos de toda a eternidade. “Um dia nos Teus
átrios é melhor que mil fora deles” (Salmo 84:10). Oh, sede cheios do Seu favor
e ficai satisfeitos com a bênção do Senhor! O vosso pão de cada dia vos será
mais doce. Comereis então o vosso alimento” com alegria e simplicidade de
coração” (Actos 2:46). Os vossos pés tornam-se mais ligeiros e empreendedores
porque são os pés de um corpo redimido, de um corpo libertado. O vosso sonho é
mais doce “porque o SENHOR dá ao Seu amado o sonho”. O Sol brilha com um novo
atractivo e a Terra apresenta um novo sorriso porque conscientemente podeis
dizer: “Meu Pai tudo criou”.
2. Porque Cristo torna felizes todos os dias. – Os
deleites “transitórios”, não durarão. Mas, ao ser alguém trazido a Cristo, a
sua experiência assemelha-se ao amanhecer de um dia eterno; a serena alegria do
Céu estende-se sobre todos os dias da sua peregrinação. Nos dias de angústia ou
de tribulação quereis dizer-me o que fará por vós o mundo?
O que canta canções para o coração aflito é como
aquele que despe a roupa num dia de frio, ou como o vinagre sobre salitre.” (Pv
25:20, ARC, Pt) Crede-me que próximos de vós estão os dias quando direis “Ao
riso disse: Está doido; e da alegria: De que serve esta?” (Ec 2:2, ARC, Pt) Mas
se fordes agora sem demora a Jesus Cristo, Ele cuidará dos vossos dias maus.
Quando o vento é contrário e as ondas são altas, Jesus aproximar-Se-á e
dir-vos-á alentadoramente: “Não temais, que sou Eu”. A Sua voz dará paz ao
coração ainda na hora mais dolorosa. Quando o mundo vos repoche e censure e
despreze o vosso nome como mau, quando se vos fechem as portas, Jesus
aproximar-Se-á e vos dirá: “Paz vos dou”. Quem poderá explicar a doçura e paz
que Cristo dá ao coração em tais horas? Uma menina que na sua tenra idade tinha
sido levada a Cristo, assim o sentia quando ficou presa no leito muito tempo
durante uma grave enfermidade. “Não estou triste dizia de me achar retida na
cama, porque a minha cama é amaciada pelo Senhor e tenho a impressão de que
está cheia de um perfume de amor para mim. O tempo, o dia e a noite, o Senhor
faz com que me sejam doces. A tarde é-me prazenteira e a manhã refrescante”.
E finalmente, no dia da morte, o que poderá fazer o
mundo por vós? O baile, e a música, e os companheiros de diversão nada poderão
fazer, estarão incapacitados para dar-vos então consolo e muito menos alegria.
Nenhuma brincadeira mais vos satisfará, nenhum sorriso mais vos dará alento. “Quem
dera que eles fossem sábios! Que isto entendessem, e atentassem para o seu fim!”
(Dt 32:29, ARC, Pt) Pelo contrário, neste mesmo transe, a alma de alguém que
está em Cristo regozija-se com um gozo mais íntimo, tão íntimo como
inexplicável, e cheio de glória. Jesus pode fazer o leito de morte mais suave
do que o fazem os mais finos travesseiros. Recordai que quando morreu Estêvão,
o seu nobre peito foi golpeado com cruéis pedras, mas ele, ajoelhando-se,
disse: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito”. João Newton fala-nos de uma jovem
cristã que, no dia da sua morte, disse: “Se isto é morrer, doce coisa é morrer”.
Outro cristão, menino de oito anos, chegou a sua casa doente duma doença da
qual morreu. A sua mãe perguntou-lhe se tinha medo de morrer. “ Não
respondeu-lhe, eu desejo morrer se for a vontade de Deus: aquela doce palavra
de “dormir em Jesus “faz-me feliz quando penso no sepulcro”.
“Filhinhos, volto a estar de parto até que Cristo
seja formado em vós.” Se quereis viver e morrer felizes, ide sem demora agora
ao Salvador. A porta da arca está amplamente aberta. Entrai agora, não seja que
depois, já não vos seja possível entrar.
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Tradução de Carlos António da Rocha
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Esta tradução é de
livre utilização, desde que a sua ortografia seja respeitada na íntegra porque
já está traduzida no Português do Novo Acordo Ortográfico e que não seja nunca
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