… Mas o melhor de tudo é crer em Cristo! Luís Vaz de Camões (c. 1524 — 1580)

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Aferrados em Cristo (Ct 3:1-4)





R. M. McCheyne

Aferrados em Cristo (Ct 3:1-4)

Sermão 5

Eu perguntei-lhes: Vistes aquele a quem ama a minha alma? Apartando-me eu um pouco deles, logo achei aquele a quem ama a minha alma; agarrei-me a ele, e não o larguei, até que o introduzi em casa de minha mãe, na câmara daquela que me gerou.” (Ct 3:1-4, ARC, Pt)

Achastes Aquele que ama a vossa alma? Vistes, hoje, a Sua beleza, ouvistes a Sua voz, crendo no Seu testemunho, já vos haveis sentado à Sua sombra, desfrutando da Sua companhia? Então agarrai-vos a Ele e não O deixeis partir.

I. OS MOTIVOS.

1. Porque nEle se acha a paz. - "Justificados, pois, pela fé temos paz com Deus". Não paz connosco próprios, não paz com o mundo, não com o pecado, nem com Satanás, porém, paz com Deus. A verdadeira paz com Deus só se a acha crendo, mantendo-nos perto de Cristo. Se O deixais partir, perdereis a vossa justiça com Ele, porque este é o Seu nome. Achar-vos-eis sem justiça, sem escudo e sem refúgio que vos defenda da ira que virá, sem caminho que vos conduza ao Pai. A lei voltará a condenar-vos, a ira de Deus voltar-se-á contra vós, voltarão a assediar-vos os temores e os espantos da vossa consciência. Portanto, travai-O e não O deixeis. Onde quer que fordes não deixeis partir a Cristo, porque "Ele é nossa paz". A nossa paz não se radica nos nossos conhecimentos, nem nos nossos sentimentos, mas, nEle somente.

2. Porque dEle emana a santidade. - Não existe verdadeira santidade, a não ser a que brota dEle. De um Cristo vivo procede a santidade de todos os Seus membros. E na medida, em que pela fé, nos acolhamos a Ele, O agarremos e não O deixemos, então, na mesma medida temos assegurada a nossa santidade. Ele foi ungido e foi constituído como Guardador para nos guardar sem queda. Ama-nos muito para permitir que caiamos sob a tirania do pecado, outra vez. A Sua palavra está comprometida: "Derramarei o Meu Espírito em vós". A Sua honra fica embaçada se a algum dos que vão a Ele é permitido viver em pecado. Se O deixais partir, caireis no pecado. Careceis de poder, não desprendereis de graça, nem tereis fortaleza para resistir aos vossos milhares de inimigos, nem tereis promessas de que os vencereis senão em Cristo. "Se Cristo estiver convosco, quem será contra vós?" Mas, se vós permitirdes que Ele não fique convosco, o que será de vós?

3. Porque a esperança da glória se acha nEle - Regozijamo-nos na esperança da glória de Deus. Se tiverdes achado a Cristo, nEle haveis encontrado o caminho da glória. Uns poucos de passos mais -podeis dizer- e encontrar-vos-eis para sempre com o Senhor. "Eu serei livre das penas e tristezas, libertado do pecado e de toda a fraqueza, livre de todos os inimigos. Na medida em que me una a Cristo, na mesma medida, verei aberto o caminho de regresso no dia de julgamento, aberto o caminho para a glória". "Tens-me guiado segundo o Teu conselho e depois me receberás em glória." Esta esperança inundará a tua alma de gozo e de desejos de ser levado para um  mundo novo, para o Céu preparado para os santos. Mas, se Cristo parte, juntamente com Ele desaparecerá tudo. Se Cristo se for, se O deixas ir, em que situação e de que forma morrerás? O sepulcro acha-se rodeado de ameaçadoras nuvens. Se não mantiveres a Cristo contigo, como te apresentarás no julgamento, para onde irás tu?

II. OS MEIOS.

I. Cristo promete guardar-te, se prenderes a Ele.
- Se hoje realmente te achas unido a Cristo, a tua situação é muito bendita porque Cristo compromete-Se a manter-te perto dEle. "Minha alma está pegada a ti: a tua mão direita me sustenta" (Salmo 63:8). O Criador do mundo é também o teu sustentador e, do mesmo modo, Aquele que deu vida a uma alma regenerada, mantê-la-á no seu bendito estado. Isto jamais deveis esquecê-lo. A Igreja não só se apoia em Cristo, mas também, Este coloca meigamente o Seu braço esquerdo sobre a tua cabeça e com o Seu braço direito a abraça. "Eu ensinei Efraim a andar, amparando-o como Meu braço".

É muito consolador para um menino agarrar-se ao pescoço da sua mamã; ah! mas que frágil seria a sua segurança se dependesse da sua débil fortaleza para lançar mão da sua mãe! Para isso a mãe rodeia o seu filho com o seu braço e o aperta contra o seu seio. A fé é boa, mas não é nada, sem a graça do que a dá. "Porei o Meu temor nos seus corações".

2. A fé em Cristo.
- O único meio para perseverar até o fim é a fé, é crer e confiar em Cristo mais e mais. Adquirir um amplo conhecimento de Cristo, da Sua pessoa, de Seu carácter. Cada página do Evangelho descobre um novo aspecto do Seu carácter, cada linha das Epístolas mostra novas profundidades da Sua obra. Procurai mais fé e obtereis um sustento mais firme, um fundamento mais sólido. Uma planta que tenha uma raiz simples, facilmente pode ser desarraigada com um simples puxão de mãos, ou esmagada com as patas de qualquer animal, ou arrancado pelo vento suave. Por outro lado, uma planta que tenha milhares de raízes bem arraigadas no solo, permanece de pé. A fé é como a raiz. Muitos crêem um pouco acerca de Cristo; crêem em algum facto. Toda a nova verdade relativa a Cristo constitui uma nova raiz bem arraigada. Crede, além disso, muito intensamente. Uma raiz pode tomar uma direcção correcta na sua acção penetrante, porém, se ela se aprofundar pouco, também, facilmente pode ser arrancada. Pedi ao Senhor que vos conceda uma fé profunda, que arraigue bem a vossa alma, e, uma fé profunda, também, nas verdades do Evangelho; pedi que seja corroborada, fortalecida, robustecida e bem arraigada. Buscai do Senhor, para que arda no vosso coração um desejo intenso e constante de olhardes para Jesus. Se vós quereis conhecer bem a alguma pessoa, e ela apenas está um pouquinho de tempo convosco, para em breve partir, contemplai as suas feições com atenção, o seu carácter muito atenciosamente, porque intenso é o vosso desejo de conhecê-la. Pedi ao Senhor que vos conceda essa intensidade de desejo para conhecer a Jesus, para O contemplardes profunda e intensamente, até que cada traço do Seu ser fique gravado no vosso coração. Tomás Scott afugentou o seu temor da morte, olhando intensamente para o seu filho que tinha morrido no Senhor.

3. A oração. - Jacob em Betel.
"Tomará alguém a minha fortaleza?" (Isaías 27:5). Deves começar a orar de outra forma, diferente de como o tens feito até agora. Faz com que a oração seja um pacto real com Deus, pacto como o que fizeram Ezequias, ou Jacob, ou Moisés.

4. O não ofender a Cristo.

Primeiro: por negligência. Quando a alma se torna preguiçosa ou descuidada, Cristo abala. Não há nada que ofenda tanto a Cristo como a preguiça espiritual. O amor está sempre vivo, activo, e quando nosso coração ama, mantém-se sempre acordado. Muitas noites o amor de Cristo manteve-te acordado? "Nem sequer uma hora podes tu velar por Ele e com Ele?"


Segundo: por meio do nosso amor a algo que façamos nosso ídolo. Não podeis lançar mão dos ídolos e de Cristo. Se hoje lançardes mão de Cristo, amanhã não deveis acolher a qualquer ídolo; de outro modo Ele ir-Se-á. É um Deus ciumento. Não podeis ser amigos de companhias mundanas e de Cristo ao mesmo tempo. "O que acompanha o néscio perecerá". Quando a Arca de Deus foi levada para o templo de Dagon, o ídolo resvalou e caiu no chão.

Terceiro: O não querer ser mais santificado
. - Quando Cristo nos escolheu e nos atraiu para Si mesmos, fê-lo para nos santificar. Frequentemente Cristo é ferido pelo nosso desejo de silenciarmos um só pecado, apenas só um.

Quarto: O viver santamente no vosso lar. - "Introduzi-o na casa de minha mãe". Não te esqueças que deves levar a Cristo no teu coração e manifestá-Lo na tua conduta no lar. É uma boa pedra de toque para que conheças a tua relação com Cristo. Se te comportares cristãmente apenas fora de casa e essa conduta nunca se manifesta no teu lar, teme que inclusivamente a primeira conduta que tens no exterior da tua casa seja falsa. Logo Cristo deixará a tua companhia e ir-Se-á de ti.

Fonte - http://www.iglesiareformada.com/



Tradução de Carlos António da Rocha

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Esta tradução é de livre utilização, desde que a sua ortografia seja respeitada na íntegra porque já está traduzida no Português do Novo Acordo Ortográfico e que não seja nunca publicada nem utilizada para fins comerciais; seja utilizada exclusivamente para uso e desfruto pessoal.

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