… Mas o melhor de tudo é crer em Cristo! Luís Vaz de Camões (c. 1524 — 1580)

segunda-feira, 22 de maio de 2017

As impressões passageiras



R. M. McCheyne

As impressões passageiras

Sermão

“Que te farei, ó Efraim? Que te farei, ó Judá? Porque a vossa beneficência é como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo passa.” (Os 6:4, ARC, Pt)

Com estas palavras Deus manifesta que não sabe o que fazer com Israel, porque as impressões que o seu povo recebe são bem pouco duradouras, são impressões que logo se desvanecem. Deus diz (v. 5) que por isso os tinha abatido, que os tinha ferido com a espada por meio dos seus profetas, que os tinha matado por meio da palavra da sua boca, e que todos os juízos, ao cumprirem-se sobre eles, são como a luz que nasce, ou seja vão ser bem claros e manifestos, tão evidentes como a luz. Houve ocasiões quando Deus lhes enviou severas mensagens para os despertar falando-lhes da ira que viria; mais adiante diz que lhes enviou mensagens de amor e de graça indulgente, tão radiantes como os claros raios do Sol. E a impressão que as mensagens produziram em Israel foi bem ligeira; a nuvem da angústia começava a formar-se sobre a sua cabeça, a geada da tristeza parecia afetar os seus rostos, mas logo se desvanecia. O mesmo está ocorrendo com as pessoas não convertidas desta congregação, as quais finalmente perecerão. Deus tem enviados aos vossos corações mensagens para vos despertar, tem-vos dilacerado por meio dos seus profetas e tem-vos morto com as palavras da sua boca. Também vos tem feito levar mensagens de ânimo e de esperança; os juízos da palavra de Deus foram tão claros e significativos como a própria "luz que nasce." Então, os não convertidos pensam, consideram tudo isso e são impressionados por breves momentos, mas logo toda a impressão se desvanece. "Que te farei, ó Efraim?"

I. CONSIDEREMOS O FACTO DE COMO AS IMPRESSÕES SE DESVANECEM NO HOMEM NATURAL

1. O facto provado pelas próprias Escrituras.

Abundam exemplos disso na Bíblia.

Primeiro: a mulher de Lot. Ela foi bastante despertada. Os rostos ansiosos dos dois varões angélicos, as suas terríveis palavras e as suas mãos misericordiosas causaram nela uma profunda impressão. A ansiedade de seu marido, também, e as suas exortações aos seus genros penetraram no seu coração. Assim, ela fugiu com passos velozes, mas quando brilhou a manhã do novo dia, os seus inquietos pensamentos começaram a destruir e a apagar aquelas impressões. Olhou atrás e converteu-se numa estátua de sal.

Segundo: Israel no mar Vermelho. Quando o povo foi conduzido a salvo através do profundo do mar em seco e viu os seus inimigos serem engolidos atrás de si, elevou um cântico de louvor a Deus. Os corações dos israelitas ficaram muito impressionados por tão magnífica libertação. O Seu cântico era: "O SENHOR é a minha força e o meu cântico; ele me foi por salvação." Cantaram para seu louvor, mas logo deitaram no esquecimento as suas obras. Três dias depois murmuraram contra Deus em Mara por causa de terem achado águas amargas.

Terceiro: Numa ocasião, um jovem aproximou-se de Jesus correndo, e prostrando-se disse-lhe: "Bom Mestre, que bem farei, para conseguir a vida eterna?" Um raio de convicção da sua necessidade iluminou a sua consciência e hei-lo agora aqui, ajoelhado aos pés de Cristo, mas, pelo que sabemos, nunca mais voltou a ajoelhar-se perante Ele. "Foi-se entristecido."O que de bom havia nele, os seus bons desejos e intenções, eram como uma nuvem matutina que aos primeiros raios solares desaparece.

Quarto: Paulo esteve uma vez pregando a Félix, o governador romano da Judeia, e como Paulo disserta-se "da justiça, e da temperança, e do Juízo vindouro", Félix espantou-se. A pregação do Evangelho sacudiu o orgulhoso governador fazendo-o cambalear no seu trono, porém ele salvou a sua alma? Ah, não! “Por agora, vai-te” ﷓respondeu ele﷓ “E, em tendo oportunidade, te chamarei." Aquela impressão, fruto das sérias admoestações de Paulo, fruto daquela mensagem, era somente como uma nuvem de estio.

Quinto: em outra ocasião posterior à citada, Paulo pregou diante do rei Agripa e da sua formosa mulher Berenice, de todos os seus capitães e dos principais homens da cidade. A palavra de Paulo turvou o coração do rei, as lágrimas quase apareceram nos seus olhos reais e por um momento ele pensou abandonar tudo por Cristo. "Por pouco me queres persuadir a que me faça cristão!", exclamou. Mas, ah, que o seu bom intento era como uma ligeira nuvenzinha e como o fino orvalho matinal! Em todas estas ocasiões as nuvens começaram a formar-se, por uns momentos o orvalho humedeceu os seus olhos, mas logo se enxugaram e ficaram secos como antes.

2. A experiência também prove o mesmo facto.

A maioria das pessoas experimenta um tempo de despertamento ao receberem o impacto do Evangelho. Se as impressões no coração natural fossem permanentes, a maioria seriam salvos, mas o fruto bem sabemos, quão diferente é. Em poucos se produz o fruto apetecido. Quiçá não me equivocarei muito se disser que é possível que nesta congregação não chegue a dez o número de pessoas que ouvindo este Evangelho não tenham sentido algo. Atenção pela tua alma, pode-se contar com os dedos das mãos o número de pessoas em quem este Evangelho não tenha feito nenhum impacto, e, não obstante, temo-me que podem contar-se por centenas aqueles que, apesar de tudo, perder-se-ão.

Primeiro: Quantos têm sentido na sua juventude um tempo de inquietação quando os exortava a sua mãe crente, ou o seu pai fiel os ensinava, ou os doutrinava um fiel instrutor da escola dominical! A quantos tem feito profundas impressões o ensino bíblico! Mas passaram rapidamente como "a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo passa."

Segundo: Quantíssimos que foram religiosos nos períodos dos seus primeiros passos no cumprimento dos seus preceitos, quando foram participar pela primeira vez da ceia do Senhor, ou na sua primeira comunhão (segundo a mentira em que habitem), quando conversaram com o seu ministro ou com o seu diretor espiritual e ouviram as suas perguntas penetrantes e as suas fiéis admoestações e avisos, quando sentiram o toque da sua mão sobre os seus ombros ou sobre as suas cabeças, quando teve lugar tudo isso, tremeram e ficaram como embargados; as lágrimas fizeram a sua aparição e eles voltaram para os seus lares com um espírito de oração. Não obstante, quão pronto passou e se apagou a impressão! O mundo com os seus prazeres e cuidados envolveu as suas mentes e tudo veio a ser como a nuvem e o orvalho matutinos.

Terceiro: Uma primeira enfermidade de caráter grave. Quantos, quando jaziam no leito da enfermidade e se viam à beira da morte, tremeram ao darem-se conta de quão pouco preparados estavam para enfrentar-se com a morte! Naquele momento fizeram a firme resolução de mudar de conduta. "Se o Senhor me livra ﷓pensaram﷓ evitarei as más companhias, orarei e lerei a Bíblia, e cumprirei com os meus deveres religiosos, tão descuidados até agora." Mas, logo que sararam, as melhores resoluções foram deitadas em saco roto e nada ficou disso, como nada fica da nuvem e do orvalho temporãos.

Quarto: a primeira morte na família. Que profunda impressão produz num coração sensível! O círculo amável e familiar rompe-se e fica incompleto para sempre. Então começa a orar e a voltar-se para aquele que os feriu, a ele e aos seus. Quiçá ajoelhados perante o corpo inerte, fazem votos de não voltar a pecar nem continuar vivendo na vaidade dos seus sentidos e concupiscências. Quiça também pode ser que, no trajeto do fúnebre cortejo, no meio de tantas lágrimas grossas que se deslizam pelos seus olhos, prometem enterrar todas as suas loucuras e pecados em memória do ser perdido e amado. Sem embrago, logo se produz a mudança; enxugam-se as lágrimas e a oração é esquecida. O mundo volta a ocupar o seu lugar e volta a reinar como se nada tivesse ocorrido, como se não se tivesse feito nenhuma decisão. Todos os bons intentos se assemelham à nuvenzita da manhã.

Quinto: quando se produz este despertamento nas almas, muitos recebem impressões profundas. Alguns até se alarmam ao ver alarmados outros que não são piores do que eles. Alguns foram removidos intimamente no mais profundo dos seus sentimentos. Muitos outros se sentem impulsionados a desejar ser convertidos e a chorar e a orar. Jonathan Edwards menciona que era difícil, quando no seu tempo houve um grande avivamento, encontrar um indivíduo em toda a cidade que fosse indiferente. Existia ﷓disse﷓ uma grande sensação da presença de Deus em toda a parte. Assim se passa aqui, e, não obstante, uma vez transcorrido o tempo, quão facilmente se submergem na mesma indiferença de antes! A sua impressão foi bem pouco duradoura.

Queridos amigos, vós sois testemunhas de quanto digo. Não sei, mas creio que, ﷓e não me equivoco muito acerca do que vos estou declarando﷓ a imensa maioria de vós tendes experimentado o remorso pela vossa conduta num tempo ou noutro e só Deus e as vossas consciências sabem quão superficiais e ligeiras vos têm resultado estas impressões; a sua ação depressa tem desaparecido. Do mesmo modo que as nuvens da manhã se desfazem no seu contacto com a superfície das montanhas e o orvalho se seca deixando a descoberto novamente a imóvel e inanimada rocha, assim passam as vossas impressões e fica somente o vosso duro e insensível coração. Tal acontece com aqueles que se perderão. O caminho do inferno está pavimentado de boas intenções e o inferno está cheio de pessoas que em algumas ou em muitas ocasiões choraram e oraram pelas suas almas. "Que te farei, ó Efraim?”

3. Mostremos agora os passos que dão estas impressões tão pouco duradouras.

Quando o homem natural é guiado a tomar interesse em tudo o que diz respeito à sua alma, começa a fazer um uso muito diligente dos meios da graça.

Primeiramente ora. Quando o temor do inferno pesa sobre a sua consciência, começa a ter certa vida de oração e amiúde experimenta ternas e doces sensações na oração. Enquanto permanecem estas impressões, mantém-se constante nas suas obrigações. Mas invocará sempre o nome do Senhor? Quando cessa este interesse, a sua oração cessa gradualmente também. Não de repente, mas sim por graus, abandona a sua vida de oração secreta. Algumas vezes teve uma companhia que o incomodou e o estorvou para orar, outras vezes deixou-se adormecer e assim pouco a pouco abandonou totalmente a oração. "Que te farei, ó Efraim?”

Em segundo lugar ouça a Palavra de Deus.

Quando um homem é despertado, vai escutar a pregação da Palavra de Deus. Sabe que Deus abençoa especialmente por meio da pregação da Palavra, porque a Ele agrada-Lhe salvar os crentes pela loucura da pregação. E ele torna-se num assíduo ouvinte; mantém-se inclinado, escutando as palavras do ministro; a sua atenção é muito viva ao escutar a Palavra. Se tem lugar algum culto especial a meio da semana, acode pressuroso, até à custa de ter que dar-lhe cabimento no meio de dificuldades próprias das suas ocupações. Mas quando o seu interesse começa a decair, nota que os serviços a meio da semana o incomodam, depois já também o estorvam os cultos de domingo; então, busca, quiçá, outro ministro menos fervente, em cujos cultos ele possa lançar no esquecimento a morte e o juízo. Ah, este foi o caminho que muitos seguiram, dos milhares que têm passado por aqui! "Que te farei, ó Efraim?”

Em terceiro lugar, ouvindo o conselho de seus pastores.

Quando as almas sentem a inquietação do remorso, amiúde buscam o conselho dos ministros de Cristo. "Andando e chorando, virão e buscarão ao SENHOR, seu Deus. Pelo caminho de Sião perguntarão, para ali dirigirão o rosto.” (Jr 50:4-5 ARC1995) Acudem aos chamamentos dos atalaias, e dizem-lhes: "Vistes aquele a quem ama a minha alma?" Esta é uma das obrigações do pastor, porque “os lábios do sacerdote guardarão a ciência, e da sua boca buscarão a lei, porque ele é o anjo do SENHOR dos Exércitos.” (Ml 2:7 ARC1995) Mas quando o interesse se passa não demora em desaparecer totalmente esta atitude. Muitos há que vieram um tempo, os quais nunca mais voltarão. "Ó Efraim!"

Em último lugar, evitando o pecado.

Quando um homem sente a convicção do seu pecado, procura evitá-lo sempre, foge dele com todo o seu poder. Então reforma a sua vida, sua alma é limpa, varrida, adornada. Mas quando o seu interesse declina, as suas paixões revivem e ele volta, qual porco lavado, ao seu vómito, e como a porca que foi lavada se revolve novamente na lama. Se houvesse alguma coisa capaz de salvar nas impressões que se produzem no homem natural, ele se tornaria mais santo, mas, pelo contrário, ele torna-se ainda pior. Sete demónios entraram naquele homem, cujo final foi muito pior do que o princípio. "Que te farei, ó Efraim?”


II. POR QUE DESAPARECEM AS IMPRESSÕES NO HOMEM NATURAL

1. Eles nunca se viram perto de sentir-se verdadeiramente perdidos.

As feridas do homem natural são geralmente muito superficiais. Há ocasiões em que vislumbram um ligeiro resplendor de terror que os alarma. Amiúde sentem algum grande pecado cometido como aquele que os faz abrigar certos temores. Em outras ocasiões é somente um sentimento de solidariedade com outros, que fogem da ira, o que os leva a escaparem eles também, mas só por simpatia ou por uma sensação ligeira de companheirismo. Amiúde dizem: "Eu sou um grande pecador; temo que não há misericórdia para mim." Mas não experimentam a sua própria incapacidade, a sua boca não se fechará, nem cobrirão os seus lábios como o leproso. Pensam que com um pouco de oração, ou de pena, ou de arrependimento, ou de emenda, terão o suficiente. "Somente se requer ﷓pensam﷓que mude de conduta". Não chegam a compreender que tudo que façam não é nada, que não tem valor algum para os justificar. Se compreendessem a sua situação terrivelmente desesperada e a absoluta necessidade de que outro lhes aplique os seus méritos e justiça, nunca mais achariam repouso no mundo, não voltariam para ele, teriam de buscar desesperadamente a sua salvação verdadeira e não descansariam até que achassem o verdadeiro descanso que Cristo dá.

2. Nunca viram a beleza nem o atrativo que Cristo tem.

Um raio de terror pode levar um homem a cair sobre os seus joelhos, mas não o levará a Cristo. Ah, não! Tem de ser o amor o que impulsione as almas para Cristo. O homem natural, até numa condição de interesse não encontra beleza nem atrativo em Cristo. Não se sente movido a contemplar aquele que transpassou com as suas transgressões e a chorar sobre Ele Quando o homem obtém uma visão da suprema excelência e doçura de Cristo, quando descobre o perdão abundante, a paz e a santidade que Ele oferece, nunca volta para trás. Poderá achar-se em penas e trevas, mas abandonará a cidade de destruição em que se acha para procurar aquele a quem a sua alma ama. O coração que teve uma visão de Cristo fica constrangido pelo seu amor, nunca mais achará descanso, nem encherá o seu vazio com outra coisa que não seja Ele.

3. O homem natural nunca teve um coração que odeie o pecado.

As impressões do homem natural são geralmente produzidas pelo terror. Compreende o perigo do pecado, mas não a sua imundície. Dá-se conta de que Deus é justo e verdadeiro, que a lei deve ser satisfeita; vislumbra também a ira de Deus que há-de vir. Vê que há um inferno por causa dos seus pecados, mas não vê que os seus pecados, eles mesmos, são o inferno. E por isso continua, sem embargo, amando o pecado; não mudou de natureza. O Espírito de Deus não habita neles e por isso as impressões da Palavra de Deus são tão débeis, são como palavras escritas sobre a areia, que logo a leve brisa apaga. Aqueles que são conduzidos a Cristo são levados a compreender também o vil e infame do pecado. Não são impulsionados a exclamar: "Eis aqui, sou imperfeito e injusto", mas: "Ai de mim, que sou um vil e miserável." Logo que o pecado aparece tão repugnante no seu seio, apressam-se, escapam rapidamente a refugiar-se na cruz de Cristo.

4. O homem natural não conta com nenhuma promessa de que as suas impressões lhe sejam perduráveis.

﷓ Aqueles que estão em Cristo têm doces promessas. “E porei o meu temor no seu coração.” (Jr 32:40 ARC1995) “Tendo por certo isto mesmo: que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao Dia de Jesus Cristo.” (Fl 1:6, ARC, Pt) Mas o homem natural não tem interesse nestas promessas e assim, no tempo da tentação, as suas ansiedades e inquietações facilmente se esfumam e desaparecem.

III. A GRAVIDADE DA SUA SITUAÇÃO

1. Deus lamenta-Se, condoe-Se de quem se acha em tal estado: "Ó Efraím!". Deve ser uma situação realmente desgraçada quando Deus Se aflige por ela. Quando Cristo chorou sobre Jerusalém, mostrou que o seu caso era um caso desesperado, porque aquele olho alagado pelas lágrimas tinha uma visão clara do seu futuro. E de acordo com aquela visão breves anos depois, aquela cidade, amada e reverenciada, via-se convertida num montão de ruínas. Multidões daqueles que viveram no seu tempo achavam que já tinha acontecido o desastre de Jerusalém no inferno e que seus filhos que tinham ficado vivos andavam errantes. Quando Cristo contemplava e observava os fariseus que o rodeavam, lamentava-se e censurava-os pela dureza dos seus corações conhecendo que eram um caso desesperado; não se lamentava porque sim. Do mesmo modo vós hoje podeis conhecer essa queixa de Deus: "Ó Efraím!" Que o caso do homem natural, não realmente regenerado, é um caso desesperado e grave de verdade.

2. Deus não dispõe de nenhum outro meio para despertar.

Deus fala de uma maneira que expressa a Sua incapacidade para encontrar outra forma de atuar com o homem para salvá-lo: "O que, o que farei?" Deus está como dizendo: "Digam-me, sugiram-me o que posso fazer", mostrando-nos assim que não tem nenhum outro sacrifício pelo pecado. Vós ouvistes todas as verdades que podiam conduzir-vos ao despertamento, ensinaram-vos todas as verdades persuasivas e alentadoras que sua Palavra encerra. Estivestes ao pé do Sinai, e do Getsemane e do Gólgota e agora pergunta-vos: "Que mais vos posso fazer?" Todas estas verdades vos foram sido impressas nos vossos corações pela sua divina providência quando passastes por aflições, ou pelo leito de morte, e também em épocas em que se produziu algum grande despertamento em outros que vos rodeiam. Passastes também por algum período quando era para vós dez vezes mais a propósito o tempo para a vossa verdadeira conversão que quiçás o é agora, e não obstante, vos haveis afundado mais profundamente na vossa triste condição. Ah, que a ceifa já passou, o verão já transcorreu e vós não fostes salvos! Deus não dispõe, amigos, de mais setas na sua aljaba, não conta com novos argumentos, não tem outro inferno, nem tampouco outro Cristo.

3. O homem natural não pode esperar nada de bom das suas impressões já passadas.

Quando a nuvem se desvanece no seu contato com a montanha e se desfaz o orvalho sobre a penha, a montanha continua sendo tão grande como grande era antes e a rocha continua sendo igualmente tão dura como antes. Mas amigos, quando as impressões da palavra de Deus desaparecem e deixam de exercer a sua ação sobre o coração do homem natural, a montanha dos seus pecados e culpas fica enormemente aumentada e o seu duro coração endurece-se ainda muito mais. Quando essa é a situação do homem, é muito pouco provável que algum dia chegue a ser salvo. Como o ferro que se endurece quando ao ser fundido rapidamente se introduz em água fria, assim como a pessoa que havendo-se recuperado de uma enfermidade logo recai e se acha numa situação mais difícil do que a que teve durante a primeira fase da sua enfermidade, assim é com o homem natural uma vez que o Espírito Santo deixa de disputar e lutar com ele para o salvar.

Primeiro: hoje vós estais mais velhos do que em qualquer dia passado, e cada dia que passa é menos provável que chegueis a ser salvos; os vossos corações cada dia se vão acostumando mais e mais à vossa própria maneira de pensar e de sentir; o vosso joelho achará cada vez mais difícil dobrar-se diante de Deus.

Segundo: vós haveis ofendido o Espírito, desperdiçastes a vossa oportunidade, afrontastes o Espírito Santo; as convicções não estão ao vosso alcance, não sois vós que as podeis produzir nem provocar; em tal caso acontecerá aquilo de que "terá misericórdia de quem terá misericórdia."

Terceiro: vós haveis deitado fora (ainda que com duros esforços) as convicções que pugnavam por entrar em vós. A pálpebra fecha-se instintiva e rapidamente quando algum objeto procura introduzir-se no olho, do mesmo modo como se fechou violenta e duramente o vosso coração amante de toda a prática, conduta e prazer mundanos, arrojando fora e cerrando o passo às convicções que do céu vos vinham.

Quarto: quando vos achardes no inferno desejareis vivamente, se pudesse ser, não ter tido nem sentido o forte assédio que as convicções tiveram procurando impor-se à vossa própria maneira de pensar, porque elas farão com que a vossa condenação adquira graus mais terríveis de sofrimento.

Queria agora suplicar, queria conseguir à força de rogos e súplicas, queria rogar-vos a todos os que haveis sentido no vosso coração alguma impressão da Palavra de Deus, que não a deiteis em saco roto, que não permitais que ela se desvaneça. Constitui un grande privilégio viver à luz de um ministério evangélico, ainda o é maior viver num período de avivamiento, ainda maior sentir como se derrama sobre os vossos corações o Espírito de Deus despertando a vossa alma e despertando saudáveis inquietações em vós. Não sejais negligentes deixando que elas não façam a maior mossa nas vossa almas, não vos volteis para elas de costas; "Lembrai-vos da mulher de Lot." "Escapa-te por tua vida; não olhes para trás de ti e não pares em toda esta campina; escapa lá para o monte, para que não pereças.”

http://www.iglesiareformada.com/McCheyne_Impresiones_Pasajeras.html


Tradução de Carlos António da Rocha

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